sábado, 3 de novembro de 2012



Isabel Maria Picão



            Nascida em Badajoz em 1865, Isabel Maria Aquilina Portocalesy de Saavedra y Campos era filha de D. Fernando Aquilino Portocalesy y Luis e de Ana Maria de Campos e Saavedra e natural de Badajoz. Casou-se a 18 de Setembro de 1880, na freguesia de Sto. Ildefonso em Elvas, com David José do Carmo de Bastos Picão, sobrinho-neto do já citado Cláudio José de Bastos Picão, e filho de Amaro José de Bastos Picão, lavrador e proprietário do monte “Torre de Siqueira”, e de sua mulher Mariana do Carmo Mendes Afonso Martins.
            Não era uma senhora muito bonita (as sua feições podem ser conferidas no retrato a óleo que ainda hoje se mantém no edifício que outrora foi a sua casa) e, talvez por isso, se contasse que o marido David Picão tinha uma(s) amante(s). É por causa desse mesmo edifício que Isabel Maria Picão ficou estimada pelos elvenses e odiada pela família.
            Antigamente, a Câmara Municipal de Elvas situava-se na praça da República, onde os Paços do Concelho estiveram durante quatro séculos. Este edifício foi concluído em 1538 e quem o projectou foi Francisco de Arruda, o mesmo mestre e autor da obra do Aqueduto e da fábrica da Sé. Aliás, tal era a beleza do imóvel que em 1729, aquando da cerimónia da troca de princesas no Caia, esteve nele alojado a Família Real. Contudo, desde os fins do séc. XIX, pairou no espírito dos indivíduos que geriam os negócios municipais o desejo de transferirem os Paços do Concelho para o Palacete da rua dos Pessanhas, propriedade do lavrador David Picão, por haver nas suas 86 salas lugar para todas as repartições municipais.
            Com esse fim, já em 9 de Junho de 1891 se haviam reunido nos Paços do Concelho alguns dos 40 maiores contribuintes da contribuição predial, mas maioria votou para que se realizassem antes obras no prédio da Praça.
            Só umas dezenas de anos mais tarde a ideia se firmou em bases sólidas e em sessão de 2 de Fevereiro de 1935 resolveu-se comprar o edifício.
            Como, entretanto, David Picão tinha morrido, a sua viúva Isabel Maria Picão jurou que nada deixaria em testamento à família daquele que lhe tinha sido toda a vida infiel.
            Assim, a 8 de Novembro do mesmo ano foi assinada a escritura de compra em condições altamente vantajosas para a Câmara. A venda foi feita da seguinte forma: 600 contos pela casa e 190 pelo mobiliário, valendo tanto um como o outro muitíssimo mais, e tendo sido o pagamento facilitado ao máximo. 100 mil escudos no acto da escritura e 50 até 31 de Dezembro desse ano, o restante em prestações semestrais de 18 contos sem vencimento de juros, mas cessando por morte da proprietária.
            Como Isabel Maria Picão (ou a tia Maria espanhola, como era conhecida pela família) morreu a 18 de Dezembro de 1944, nessa data a Câmara entrou na posse de todos o edifício, bem como da magnífica Herdade D. João, que a mesma senhora legou à cidade.
            Para maior raiva da família, a rua da Câmara chama-se hoje Isabel Maria Picão.

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