sábado, 3 de novembro de 2012

Cláudio José de Bastos Picão

Filho de Amaro José de Bastos Picão, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão de Ordenanças, Familiar do Santo Ofício e lavrador, e de sua mulher Francisca Faustina de Lima, Cláudio José de Bastos Picão foi um lavrador e proprietário no concelho de Elvas. Nasceu em 1782 em Sta. Eulália e foi nessa terra que manteve a sua lavoura, no monte “Torre de Siqueira”. Casou com Joaquina Vicência Cordeiro Vinagre. 
Por decreto de 27 de Agosto de 1807 foi nomeado Capitão de Ordenanças de S. Vicente, tal como vem disposto na relação dos oficiais de Ordenanças:


“Cláudio José de Bastos Picão, capitão da 11ª Companhia de S. Vicente, 47 anos de idade. Anos de serviço e posto de oficial 22 anos e 4 meses. Data em que foi promovido a capitão que actualmente tem, e se foi por decreto, resolução de consulta, ou nomeação do general. Por Decreto do Conselho de Guerra de 27 de Agosto de 1807. Se tem saúde e robustez suficiente para continuar no desempenho dos deveres do seu posto. Tem robustez, porém muita falta de vista que o proíbe muitas vezes para o desempenho do serviço. Se tem bens para poder continuar a exercer o posto que ocupa sem vexar os povos. Tem bens suficientes para poder exercer o posto que ocupa sem vexar os povos. (…)”


Este lavrador e Capitão de Ordenanças Cláudio José de Bastos Picão cegou por completo, pelo que, não podendo administrar devidamente, a sua casa agrícola deu em decadência. Em tal conjuntura dizia para a família: “Sobrinhos! Quem o tiver segure-o, que eu tive-o e deixei-o fugir. Antigamente era o Senhor Capitão Cláudio, agora nem Cláudio já sou.”


Era um homem de espírito. Dele se conta que tendo comido chícharos teve uma indigestão, pelo que exclamou que vergonha se eu morro, pois hão-de dizer: “Morreu o Capitão Cláudio duma indigestão de chícharos, ainda se fosse de lombo!” 


Existem ainda outro episódio divertido e revelador do seu carácter. Naquele tempo ainda não havia recrutamento militar obrigatório. Quando era preciso recrutar soldados, surgia nas aldeias, aos domingos, uma força de infantaria que, cercando a igreja à hora da missa, ia prendendo todos os homens solteiros, rejeitando os casados. Passavam depois revista às casas, pelo que os solteiros metiam-se na cama com as irmãs, fingindo que eram casados para não os levarem.


Numa dessas ocasiões, levaram também um pastor do lavrador Cláudio José de Bastos Picão. Este era então vereador da Câmara Municipal de Elvas. Na primeira sessão da Câmara apresentou-se vestido de pastor, com safões e pelica. Grande pasmo dos vereadores, que inquiriram do caso, explicando ele que lhe tinham levado o seu pastor para soldado e por isso tinha que ir ele guardar o gado. Surtiu efeito a ironia, o estratagema, pois o presidente da Câmara foi expor o caso ao general, que mandou logo soltar o pastor.

Os apontamentos sobre a biografia militar existem no Arquivo Histórico Militar e foram copiados pelo seu sobrinho-neto Laureano António Picão Sardinha.

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