terça-feira, 12 de junho de 2012

Família Picão I





Houve sempre grande mistério sobre a origem deste sobrenome. Os estudiosos apenas são unânimes quanto à origem toponímica do mesmo, mas aí surge-nos um problema: Qual a localidade que lhe deu o nome? Existe a possibilidade de ter sido tirado do lugar de Picão, em Castro Daire. Mas pode também ter aparecido mais recentemente (séc.XVI) em Santa Eulália - Concelho de Elvas - pois sabemos da existência de uma herdade chamada “Chão dos Picões” e que pertencia a essa família, que pode bem ter adoptado o nome da herdade para si, tal como foi o caso da família Rasquilha de Arronches e da herdade “A do Rasquilho”.




Contudo, segundo Cristóvão Alão de Moraes “Pedro Affonso foi criado do Bpo. de Vizeu D. João de Abreu e veyo cõ elles para a d.ª cidade, E por ser natural da Pica de Regalados lhe chamarão o ‘Picão que ficou por apellido a seu f.º. Casou na d.ª cidade cõ Brites Als. filha de Lopo Martins de Argala natural de Leonil, E ouvidor que fora do Conde de Marialva nas Terras que tinha na Ribeira (…)”


Partindo do princípio que a família Picão de Santa Eulália descende dos “Picões” de Viseu, será a teoria de Alão de Moraes a mais lógica. E, de facto, tal ideia não seria descabida. Já em 1594 há registo de, em Elvas, ter nascido um Sebastião Martins Picão e como não há dados anteriores a este período podemos partir do princípio que Sebastião foi o primeiro Picão a fixar-se nesta zona.

Apesar de Alão de Moraes não especificar datas nem anos, talvez por inexistências dos mesmos nos registos, podemos situar Pedro Affonso O Picão, se foi contemporâneo de D. João, bispo de Viseu, entre 1410 e 1482. E se, segundo o mesmo autor, também tiver sido contemporâneo do 2º Conde de Marialva, D. Gonçalo Coutinho, podemos reduzir para o espaço de 1415 a 1482 , o período de vida d’O Picão. 




Agora observemos a sua descendência:




1. Pedro Affonso teve




2. Diogo Piz. Picão, filho deste. Casou em Vizeu com N. Lopes, irmã de Thomas Lopes e houve




3. Francisca Lopes de Andrade, mulher de Gaspar de Loureiro




Podemos então situar estas três gerações no período compreendido entre 1415-20 e 1485-95. O que nos deixa cerca de 100 anos até ao registo do primeiro Picão em Santa Eulália, sendo por isso possível que estes Picões de Viseu tenham, por qualquer razão, migrado para o Alentejo. Mas trata-se duma teoria que em nenhuma fonte é baseada e por isso só pode ser vista como uma especulação.







Agora voltamos a Sebastião Martins Picão. Pouco ou nada se sabe sobre ele, a não ser que nasceu em 1594 e possuía uma herdade com o nome “Chão dos Picões” em Santa Eulália, no início do séc. XVI. Não se conhece mulher com algum nome, mas sabe-se que Sebastião teve um filho,




Manuel Martins Picão (Elvas, Santa Eulália 1624 - ?). Casou com Eulália Maria Augusta Martins, nascida em 1628, e tiveram




António Martins Picão (Elvas, Santa Eulália 1656 - ?) que casou com Isabel Maria Lopes (? - ?) e foram pais de




José Martins Picão (Elvas, Santa Eulália 1685 - 1727). Casou com D. Juliana Maria Picão Guerra (n. 22.02.1693), filha de João da Guerra e Maria Picão, e tiveram dois filhos




1. José Martins Picão, cavaleiro da Ordem de Cristo e mordomo-mor em Elvas, e




2.Manuel Martins Picão (n. 24.05.1717). Foi Capitão de Ordenanças da vila de São Vicente – Concelho de Elvas – e proprietário (em 1727) da herdade de São Pedro. Casou com D. Florência Gonçalves Rodrigues (n. 1722), filha de António Maria Rodrigues e Maria Gonçalves, e tiveram um filho




2.1 Amaro José de Bastos Picão (Elvas, Santa Eulália 15.01.1749 - 03.10.1789). Habilitado de genere em Elvas em 1764, foi estudante de Filosofia, Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, por carta de 13-I-1779, Familiar do Santo Ofício (FSO), por carta de 02-V-1769; Capitão de Ordenanças em Santa Eulália e lavrador rico e abastado.

Merece ser recordada a elaboração do processo para FSO, pois algumas das testemunhas ouvidas declararam que sua avó Juliana tinha fama de mulatice, o que ninguém conseguiu provar e que levou o Comissário do Santo Ofício em Elvas, Francisco Nunes, a relatar sobre esta matéria o seguinte:




“ M. Ill.es Snr.es na forma que V.ªs Sr.ªs ordenam fui às freguesias da Senhora da Ventosa, São Vicente e Aldeia de Santa Eulália, termo e Bispado desta cidade de Elvas, nelas fiz esta diligência, as testemunhas me parecem dignas de crédito e isto se pode dar a seus ditos por não alcançar coisa em que se encontre a impureza do sangue do pretendente, e só se fazem menor dignas de crédito, naquela parte, aquelas que falam em que o pretendente tem parte de mulatismo pela avó paterna, tanto, por não darem razão de seu dito, como não concordarem umas com as outras, pois umas dizem ser por parte de João da Guerra, outras por parte de Maria Picão, pais da dita avó Juliana, e bisavós do habilitando, em que se mostra ser tudo falso, por quanto nem um nem outro ter nada de mulatos, o que tudo se vê claramente na inquirição de genere do habilitando, que se acha na Câmara Episcopal, em que algumas testemunhas falaram no mesmo e com o mesmo fundamento que nesta, o que tudo se destruiu pelas certidões de casamento dos mesmos bisavós em que se falava, e sentença que no mesmo Juízo Eclesiástico teve a seu favor; e segundo o que alcancei me parece que um irmão de um destes bisavós foi casado com uma mulher que se dizia tinha parte de mulatismo, é o que posso e acho para informar V.ªs Senhorias que Deus Nosso Senhor Guarde por muitos anos. Elvas 4 de Março de 1769 - Francisco Nunes.”




Casou em Maio de 1773 com D. Francisca Faustina de Lima, baptizada em Santa Eulália a 20.02.1754, filha de João Martins Grenho, natural da freguesia de São João Baptista da Póvoa del-Rei, termo de Trancoso, e de sua mulher Isabel Domingues, natural de Santa Eulália; n. p. de Manuel Fernandes, natural do Lugar de Santa Eufémia, termo de Trancoso, e de sua mulher Ana Rodrigues, natural da freguesia de São João Baptista; n. m. de Domingos Gonçalves Lima, natural da freguesia de São Tomé de Carrilhão, Couto de Barcelos, e de sua mulher Ana Martins, natural de Santa Eulália, Elvas.




(continua)

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